domingo, 7 de fevereiro de 2010

Miro Teixeira: um novo porta-voz da grande mídia


Tenho observado com surpresa, há tempos, algumas manifestações públicas do deputado federal  Miro Teixeira (PDT-RJ) sobre a grande mídia. O deputado tem defendido, veementemente, várias posições dos empresários do setor. Por exemplo, na matéria intitulada "Governo federal prepara novo ataque à mídia" [1], publicada no jornal "O Globo", Miro criticou  a parte do texto-base da II Conferência Nacional de Cultura referente aos meios de comunicação. Para ele, não existe, conforme sugerido pelo documento, um monopólio prejudicial à democracia e aos direitos humanos na área:

— O Brasil não é um monopólio. Dizer isso é um exagero, um erro. No país há concorrência, diversidade de veículos e de opiniões.

Vale mencionar, ainda, um outro exemplo - talvez mais contundente -  do alinhamento do pedetista com as corporações de mídia: o artigo "Tudo azul na mídia oficial" [2]. Nele, o deputado exalta o papel "positivo" dos meios de comunicação privados, qualifica a mídia pública de "chapa branca" e rechaça qualquer controle social sobre a grande mídia, repetindo a velha e maliciosa confusão entre liberdade de expressão e liberdade de empresa. Eis dois trechos significativos do artigo:

"As ainda tímidas reações a tentativas de controle governamental de conteúdo da imprensa revelam que tal despropósito não triunfará, porque o Brasil democrático tem  uma população atenta que se mobilizará, quando necessário, em favor da própria liberdade de expressão e de informação."

"O contraponto e a crítica à atuação governamental têm espaço obrigatório na mídia privada, cuja confiabilidade sofrerá danos irreversíveis se controlada pelas anunciadas investidas do poder público."

Também chamou a minha atenção o prêmio conferido pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidade que expressa os interesses das empresas do setor, para o deputado  [3]. 

Evidentemente, existem vários parlamentares ligados à grande mídia. O extraordinário, aqui, é o fato de um político vinculado ao PDT - partido tradicionalmente crítico à mídia corporativa, vítima de várias calunias e difamações difundidas pelos grandes meios de comunicação (basta lembrar dos governos de Brizola) e considerado, por muitos, como de esquerda (ou de centro-esquerda) - assumir com tanta desenvoltura uma postura de porta-voz dos empresários da área. Do mesmo modo, causa espanto o fato de que alguém que já foi ministro das comunicações no primeiro mandato de Lula - ou seja, de um governo tido como "popular" - e que possui uma trajetória associada (pelo menos desde 1989) às organizações progressistas ou de esquerda (foi filiado ao PDT, ao PPS e ao PT) e marcada pelo combate ao neoliberalismo (foi vice-líder do bloco parlamentar de oposição na época do governo Fernando Henrique) tenha posições tão lamentáveis.

Enfim, eis mais uma demonstração de que as siglas e programas partidários contam muito pouco na despolitizada política brasileira e de que boa parte do antigo campo democrático e popular sofreu uma metamorfose impressionante, abandonando qualquer perspectiva mudancista - uma derrota de grandes proporções para todos/as aqueles/as que  lutam por  uma efetiva transformação social em nosso país.

Notas:

[1] http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/01/18/governo-federal-prepara-novo-ataque-midia-258481.asp

[2] O Globo, 31/01/2010.

[3] http://www.comunique-se.com.br/conteudo/newsshow.asp?editoria=8&idnot=53254 

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